Que venham as palavras: nocivas, indecisas,
despudoradas, vestidas de dores, de mágoas, de raivas. Que venham como
quiserem, que se ofereçam delicadas ou urgentes, despidas de tudo,
eloquentes, mas que sejam transparentes. Que venham sem falso moralismo,
sem recalques, sem alegrias artificiais, sem entusiasmos opacos. Venham
palavras: inocentes, indecentes, inexistentes.
Componham frases, poemas, cartas, bilhetes, músicas. Venham livres, eufóricas e aladas, sem apego ao poeta-instrumento, à paisagem, ao sentimento, a nada. Venham vivas, mesmo que para falar, acidamente, dos mortos que ainda não foram enterrados.
Marla de Queiroz
Componham frases, poemas, cartas, bilhetes, músicas. Venham livres, eufóricas e aladas, sem apego ao poeta-instrumento, à paisagem, ao sentimento, a nada. Venham vivas, mesmo que para falar, acidamente, dos mortos que ainda não foram enterrados.
Marla de Queiroz
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